Adoro família

Adoro bolacha, leite e novela à tarde com a minha mãe. Adoro as músicas idiotas que meu irmão ouve. Adoro a maneira lerda com que meu pai dirige, apesar de me irritar às vezes. Adoro o cheiro de alho e detergente nas mãos da minha mãe depois do almoço. Adoro o cheiro doce no jaleco do meu pai. Adoro assistir filmes com meu irmão e sua cara triste quando eu resolvo dispensá-los. Adoro ver revistas e procurar modelos lindos pra mamãe costurar. Adoro quando meu pai resolve cozinhar. Adoro quando meu irmão tem que dormir no meu quarto porque eu estou com medo. Adoro as histórias contadas a toda hora sobre a infância da minha mãe. Adoro ver minha mãe brincando com os cachorros e a voz boba que ela faz. Adoro a melodia repetida do violão enquanto meu irmão ensaia. Adoro os batuques do meu pai na mesa depois de todo almoço. Adoro quando meu irmão fica com as mãos sobre o freio de mão e ri enquanto dirijo. Adoro as bobeiras que meus pais falam e as breguices típicas de velhos. Adoro quando todo mundo fica na sala sem fazer nada, ou quando a gente sai pra almoçar, ou tomar sorvete, ou só pra andar. Adoro todo mundo junto.

Hohoho

Só lamento não ser mais criança. Exatamente a essa hora eu estaria pulando feito uma loca, esperando minha mãe chamar pra tomar banho. A uma semana estaríamos de carro, eu, meu irmão e meus pais, tomando sorvete e andando pela cidade pra eleger a casa mais bonita. Eu preferia sempre as com luzes brancas. Adorava comprar velas e arrumar uma árvore linda, cheia de laços, com a minha mãe. Adorava ir pro comércio a noite, não que eu me preocupasse com compras, mas ver as lojas enfeitadas, muitas pessoas na rua e o Papai Noel entregando balinhas era o máximo. Ah, o Papai Noel..eu sempre soube que era meu tio, mas ficava mega ansiosa pra ouvir aquele sininho inconfundível e ver ele chegar com aquele pacote imenso. Sempre escrevi cartas, não achava que elas fossem realmente parar no Pólo Norte, mas escolhia o papel mais bonito e caprichava na letra. O que importava mesmo era o clima do Natal..ou melhor, o que importa. Não fazemos mais votação pras casas, nem arrumamos tanto assim a nossa, mas ainda me encanto com as decorações piscando. O comércio continua lotado e o Papai Noel ainda está lá, mas agora eu vou por causa das compras. Não passei o dia todo brincando, mas ainda assim estou cansada, tanto que tive que roubar 10 minutos entre a chapinha e as unhas pra escrever esse texto. Agora eu me preocupo com o doce que vou levar pra vovó, com os presentes, e com a roupa. Com os amigos também, que são essenciais depois da ceia. Mas o Natal é mesmo assim, de um jeito na infância, de outro agora. O que vale é que as luzes continuam acesas, a família unida e as comidas gostosas.

Cansada de não ser ninguém

Eu não sou do tipo que lê vários livros e tem um papo super legal, eu queria ser, mas demoro demais pra ler cada um. Eu não sou a amiga mais legal, e apesar das muitas amigas que tenho, eu não tenho melhor amiga. Eu não sou a menina bonita que só precisa sorrir pra encantar as pessoas. Não sou do tipo que agrada todo mundo, alias tem muita gente que não me suporta. Eu não tenho um namorado e nem sequer alguem que pense em mim. Minha mãe não acha que lhe dou carinho suficiente. Meu pai quase não fala e quando fala é pra dizer "não", principalmente quando peço o carro, ele diz que ainda não sou boa, e meus amigos dizem que a carta é só pra enfeite. Eu não faço a faculdade que quero, e nem sei ainda qual eu quero. Eu não trabalho. E to cansada das minhas festas de sempre. To cansada de saber que falam mal de mim, mais cansada de saber quem. To cansada da minha preguiça. To cansada de só conseguir escrever isso, de não demonstrar nada, não tirar o sorriso da cara. To cansada de não ter nada pra chamar atenção e nenhum objetivo. To cansada de saber que isso é um monte de baboseira e que no fundo eu não tenho motivos nem pra estar cansada.

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